20/04/2022 13:33 - Saúde
Campanha nacional busca chamar atenção para as dificuldades financeiras históricas do setor filantrópico. Administrador do HCC, Felipe Sohne admite que instituição também poderá sofrer com reflexos negativos como a diminuição da prestação de serviços e até mesmo no quadro de colaboradores
O administrador do Hospital de Caridade de Carazinho – Felipe Sohne comentou o movimento liderado por santas casas e hospitais filantrópicos que busca chamar atenção para as dificuldades financeiras históricas destas instituições em todo o país. Nos últimos seis anos, 15 hospitais fecharam as portas por não conseguirem mais manter os atendimentos de suas comunidades. A pandemia agravou ainda mais a situação. “Estamos em um momento de campanha de nível nacional, mobilização esta que foi formatada pela Confederação das Misericórdias do Brasil e pelas federações estaduais, da qual o HCC faz parte. É uma realidade bastante dura e queremos debater este assunto com nossa comunidade, para que nossa voz se ouvida”, adiantou.
Dados divulgados pela assessoria de imprensa do HCC apontam que na instituição existe um déficit econômico e financeiro nas operações SUS de 2021 superior a R$ 6,5 milhões, além do impacto no piso salarial sobre a folha da enfermagem, na ordem de mais de R$ 500 mil mensais.
Batizado de “Chega de Silêncio”, o movimento quer chamar atenção. “Muitas vezes os hospitais trabalham calados e simplesmente aceitam as realidades impostas, especialmente as tabelas de remuneração do SUS, dos quais são prestadores de serviços. Estamos alertando para a grande disparidade que se tem, um desiquilíbrio que foi construído ao longo dos anos. São pelo menos 20 anos em que ela é pouco reajustada. Em contrapartida alguns indicadores sobem muito”, justificou, citando exemplos. “O INPC (Índice de Preços ao Consumidor) subiu mais de 500%, o salário mínimo 1.600%, o gás de cozinha mais de 2.000%. É só para se ter um comparativo dentro daquilo que representa o ‘fazer saúde’. E aí temos que continuar atendendo a comunidade sem receber o devido reajuste e ainda ter que fazer investimentos, melhorar a estrutura e as condições de trabalho dos colaboradores”, lamentou.
O déficit acaba tendo que ser financiado de outras maneiras, como os empréstimos. “Fica bem pesado. Muitas vezes as taxas de juros são de mercado, sem nenhum desconto por sermos uma instituição de saúde ou filantrópica”, acrescentou.
Sohne admitiu que se nenhuma medida para mudar a realidade for tomada, no futuro algumas instituições acabarão tendo que fechar as portas ou deixar de prestar alguns tipos de serviços, prejudicando o atendimento da população. Por isso, a expectativa é que os representantes políticos se conscientizem da gravidade da situação.
Que eles olhem para nossas instituições com mais sensibilidade e primeiro busquem alternativas de recursos emergenciais, e num segundo momento possam tornar estes valores perenes nas nossas tabelas, seguindo um índice de reajuste que comporte a manutenção dos serviços, no mesmo padrão do que temos de desembolso de outras obrigações”, resume.
Citando mais um exemplo, o administrador falou do custo da energia elétrica, que também teve aumentos frequentes. No HCC está despesa representa quase R$ 150 mil mensais.
Projeto que concede reajuste para a enfermagem
Tramita no Congresso, um projeto de lei de autoria do Senado que institui o piso salarial da enfermagem, mas não indica alternativa financeira para que os hospitais façam frente ao pagamento. “Queremos que eles verifiquem que sem recursos não há viabilidade neste projeto. Já temos dificuldades grandes de manter os hospitais atendendo, com tabelas defasadas, pagamentos não adequados como é o nosso caso no Estado, em que o IPE possui um montante expressivo de dívida para com os hospitais, ainda teremos de colocar mais recursos, sem saber de onde tirar. Infelizmente alguns serviços e talvez nós, HCC, poderemos estar na lista das instituições inviabilizadas”, colocou o administrador.
Sohne assegurou que o mérito do projeto não está em discussão.
Não cabe debater a importância que este projeto tem para nossos colaboradores que realizam um trabalho de suma importância – e vimos isso durante a pandemia – mas da inconsequência de não se ter recursos. Citando o exemplo do HCC – hospitais maiores devem sofrer ainda mais – representa déficit de R$ 6 milhões por ano, considerado as bases atuais. O reflexo pode ser redução, inclusive de colaboradores, encerramentos de alguns serviços, diminuição de atendimentos do HCC. Isso é ruim para todo mundo e coloca em xeque a estrutura do próprio SUS”, explicou.
Diário da Manhã
Fonte: Diário da Manhã
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